sábado, 27 de março de 2010

MANSÃO DA MISERICÓRDIA

MANSÃO DA MISERICÓRDIA
(Dai-nos a graça divina da justiça e da concórdia!)


Pelo passeio imundo, lentamente a pobre velhinha sobe a ladeira do Porto do Bonfim, que faz esquina com a famosa ladeira dos Romeiros, caminho para a famosa Igreja do Senhor do Bonfim, formosamente revelada ao mundo como cartão postal da Bahia e de Salvador.

Cabisbaixa, sobre o passeio irregular, carrega uma sacola com alimentos. Como companhia a própria sombra, corcovada e projetada no muro da antiga fábrica poluente, Antartica. A idade pesa mais que a sacola na mão. Os passos agora são muito mais lentos e andar exige equilibrio em passeio tão desfigurado quanto irregular. Era uma rua que primava pelo asseio e, a mais bem pavimentada de Itapagipe.

Bem na frente a velhinha vai se deparando com o desrespeito público e notório de moradores desleixados, que despejam o lixo de suas casas pelos passeios das ruas, enquanto comerciantes, que vendem pães, lanches e alimentos, sinalizando enorme mau exemplo, vão sujando e entulhando o passeio que deveriam conservar asseados, primando pela higiene do local em que se estabeleceram. Será que pensam em asseio?

Ratos e baratas proliferam, enquanto miseráveis e cãos vadios, criados no abandono, disputam comida, com badameiros, em busca da sobrevivência. Defronte o velho casarão em ruínas, onde nasceu Dr. Gouveia, já extinto.

E o poder público se omite e nada faz para coibir tal abuso, sequer com medidas educadoras. Gente relaxada e negligente, que fala em saúde pública sem a menor vergonha Doenças proliferam por todos os cantos da outra cidade, que não é revelada por quem deveria corrigir tantos desmaze-los.As autoridades se omitem com a aceitação do caos por parte de moradores inconsequentes.

A velhinha sobe carregando o fardo pesado, quem sabe opão dela de cada dia. parece que padece com a solidão que ninguém se compadece. Sofre calada. Parece desamparada, cansada, triste e, bem na nossa cara  enfrenta, sem reclamar, o desaforo do lixo despejado. Habituada no sofrimento desce o passeio e segue em frente. Parece um sofrimento ancestral, quando os afro arrancados, aqui subjugados, padeciam outras dores e suplicios. A responsabilidade torna-se difusa e o poder público sempre vai alegar falta de fiscais e deixa a cidade entregue aos ratos e baratas, enquanto a violência corre solta. Não há mais respeito !

Parece que vivemos em uma cidade muito distante das propagandas de TV. Vivemos muitas realidades diferentes em uma cidade carregada de contradições.

Ontem a cidade fez aniversário e os sinos não dobraram de alegria, nem de tristeza. Ainda vivemos com a base de pão e circo.

Somos o que projetamos. A velhinha projeta o peso da idade e seu sombreado corcovado. Ela passa e o lixo fica. Quem joga lixo na rua projeta o que tem na cabeça: falta de asseio, higiene! Quanto lixo, por dentro e por fora, e muita gente não tá nem aí !

Os sinos já não dobram pra quem vive na agonia desesperada da solidão. Os poderes públicos são omissos mesmo e nada fazem para beneficiar a margem pobre da cidade, cujos males não se resolvem apenas com cestas básicas e vale gás. Como diria o boca de brasa, Gregorio de Matos : tantos negocios e tantos negociantes e o que mais falta é vergonha.

Dizem que pobre vive de pirraça e o poder sobrevive pirraçando e enganado o povo, que se dobra quando chega o tempo de eleição.

O Bonfim e o seu honesto templo só recebem respeito na segunda quinta feira de janeiro: Festa do Bonfim!
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