domingo, 11 de setembro de 2011

Ditos Populares


A Sabedoria dos Ditados
Rogério Lacaz-Ruiz
"É a mulher que faz ou desfaz a casa"
"Deus, que é eterno faz com que cada um tenha o seu dia"

(Provérbios árabes)

O ser humano começa a amadurecer quando toma consciência das próprias limitações. Muitas pessoas morrem com idade avançada, mas nem todas morrem com espírito jovem. O ser humano é limitado, e as coisas que o cercam também! Uma das limitações humanas é a linguagem. E os problemas de comunicação aparecem, queiramos ou não.
O que há em comum então entre os homens? Qual o denominador comum? Enxergamos limites distintos nas pessoas..., mas elas continuam sendo pessoas! Segundo Boécio (sec.V) a pessoa é uma substância individual de natureza racional. Tudo o que diz respeito a natureza hu-mana, é comum a todos. Nem por isso, perdemos nossa individualidade; somos responsáveis pelos nossos atos, e não podemos desfazê-los. O falar, o escrever, são atos humanos.
A sociabilidade do homem, não exclui sua individualidade. A sociedade continuará existindo, independente de nós; e existem certos princípios que valem para todos os homens. Estes princípios, que fazem parte da cultura, são valores transmitidos de geração em geração, de pais para filhos, e correspondem ao mundo real, e à verdade das coisas. Por este motivo são perenes e universais, contrapondo aos chavões, próprios de algum lugar, ou limitados no tempo.
Os ditados, ou "...sentenças do ocidente medieval e da tradição árabe (amthal) são totalmente distintos dos sentenciários contemporâ-neos, veiculados por livros folhinha, livros-agenda e demais pílulas de otimismoreflexão em gotas, etc ... Sentenças hoje, sentenças dos antigos. Há porém, uma decisiva diferença entre nosso pensamento minimalista e a sabedoria dos antigos: nós estamos voltados somente para o interessante; eles, para a verdade das coisas." (Lauand, 1994.)
Por estes motivos - o da universalidade e o da perenidade -, vale a pena recordar alguns ditados populares, que irão enriquecer o nosso cotidiano, e poderão contribuir para simplificar as nossas relações sociais, ou mesmo o viver.
Um primeiro exemplo, vem de Tomás de Aquino (1225-1274) São sentenças usadas em seus escritos, ou cunhadas por ele próprio. Des-te modo, verificamos que muito do que dizemos hoje, já era lugar-comum há alguns séculos, o que reforça sua perenidade e universalidade.
1. "O poder mostra o que o homem é"
2. "Cada qual com seu igual"
3. "Para frente é que se anda"
4. "Uma andorinha só não faz verão"
5. "Ler e não entender é negligenciar"
8. "Quem diz as verdades, perde as amizades"
9. "A verdade gera o ódio"
10. "Sou homem e tudo o que é humano me diz respeito" (Terêncio)
Também para a tradição ocidental, os ditados e sentenças de ori-gem latina representam um tesouro cultural. Fumagalli (1955) recolheu 2948 "sentenze proverbi motti divise frasi e locuzioni latine", e alguns, que dizem respeito particularmente ao homem, podem ser recordados.
1. Homo est animal bipes sine pennis (Platão)
"O homem é um animal bípide sem penas".
2. Homo est animal bipes rationale (Boecio)
"O homem é um animal bípide racional".
3. Homo de humo (S. Bernardo)
"O homem é feito da terra".
4. Homo proponit, sed Deus disponit (Tomás de Kempis)
"O homem propõe e Deus dispõe".
É curioso notar a perenidade destes ditados, pois "O homem pro-põe e Deus dispõe" foi escrito por um europeu que nasceu em 1380; Boé-cio era do sec.V; S. Bernardo (1090-1153) e Platão (427-349 a.C.). E com certeza já escutamos de algum familiar um destes dizeres. O conhecido provérbio "Mais vale um pássaro na mão, do que dois voando" é de origem árabe, e foi usado na França medieval. (Hanania, 1995.) e o "Antes só do que mal acompanhado" ("Mejor sería andar solo que mal acompañado") já era usado em 1335 na Espanha. (Fujikura, 1995.)
Os provérbios chineses, tem uma característica muito peculiar: são compostos de quatro ideogramas e, segundo Horta (1997), "Trata-se de um máximo de informação em um mínimo de espaço." Estes provérbios, são tidos também como um "tesouro, revelando estruturas universais da vida..."
1. Chi Ren Shuo Meng (Idiota Pessoa Falar Sonho)
- Usado quando alguém diz algo absurdo.
2. Yu Su Bu Da (Desejo Velocidade Não Sucesso)
- Semelhante ao provérbio "A pressa é inimiga da perfeição".
3. Hua Er Bu Shi (Flor mas não fruto)
- Para pessoas que tem uma aparência, mas não conteudo.
4. Fu Shui Nan Shou (Derramar Água Difícil Coletar)
- Em nosso meio, diríamos: "Não adianta chorar o leite derramado".
5. Dui Niu Tan Qin (Conforme Vaca Tocar Alaúde)
Ou seja "Não jogue pérola aos porcos".
Apesar de notarmos que algumas sentenças e provérbios descritos anteriormente utilizam as características dos animais domésticos para fa-zer alguma analogia com o homem, vale a pena recordar outros, ampla-mente utilizados em nosso meio.
1. Não coloque o carro na frente dos bois.
2. Você levou gato por lebre.
3. Caiu do cavalo.
4. Montou no porco.
5. Cacarejar e não botar ovos.
6. Quem se faz de cordeiro será comido pelo lobo.
7. Quem não tem cão, caça com gato.
8. Macaco que muito pula quer chumbo.
9. Macaco velho não mete a mão em cumbuca.
10. Filho de peixe, peixinho é.
11. Quem quebra o galho é macaco gordo.
12. Animal que urina para trás, coloca o dono para frente.
13. Passarinho que come pedra sabe o ânus que tem.
14. Cão que ladra não morde.
15. A cobra vai fumar.
16. Cada macaco no seu galho.
17. Cutucar a onça com a vara curta.
18. Lobo com pele de cordeiro.
19. Ovelha negra da família.
20. Chutar cachorro morto é fácil.
21. Não cortar a pata do burro por um único coice.
22. Matar dois coelhos com uma cajadada só.
23. A cavalo dado não se olha os dentes.
24. Gato escaldado tem medo de água fria.
25. Os cães ladram e caravana passa.
26. Não jogar pérola aos porcos.
27. Quando o gato sai, os ratos fazem a festa.
28. Focinho de porco não é tomada.
29. Em rio com piranha, jacaré nada de costas.
30. Jacaré que fica parado vira bolsa.
31. Está na hora da onça beber água.
32. Um dia é o da caça, outro do caçador.
33. Não chame o papagaio de meu louro.
34. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
35. Fez do lobo o guardião de ovelhas.
Como se pode observar, as palavras ganham força, quando se ade-quam a realidade, quando dizem respeito ao ser humano e a sua natureza. Recordar os ditados, sentenças, provérbios de diferentes origens e épocas históricas, reforça a tese de que são universais e perenes; e que podem ser aplicados no dia-a-dia para simplificar a vida, retratar uma realidade, ou até mesmo ajudar, com bom humor, um amigo a (re)ver algo.
Referências Bibliográficas
Fujikura, A.L.C. "Provérbios literários e "enxiemplos"" da Espanha Me-dieval. In: L. J. Lauand (org.) Oriente & Ocidente: Idade Média: Cultu-ra popular. São Paulo: EDIX/ CEAr/DLO-FFLCH/USP, 1995, pp.25-30.
Fumagalli, G. L’ape Latina: 2948 sentenze proverbi motti divise frasi e locuzioni latine. Milano: Hoepli, 1955, p.108-109.
Hanania, A.R. "Une foiz es la premiere - Provérbios franceses medievais" In: L. J. Lauand (org.) Oriente & Ocidente: Idade Média: Cultura popu-lar. São Paulo: EDIX/ CEAr/DLO-FFLCH/USP, 1995, pp.19-24.
Horta, S.R.G. "Provérbios na tradição chinesa". In: Bretzke, G.G. & Horta, S.R.G. Calidoscópio. São Paulo: Mandruvá, 1997, p.51-58.
Lauand, L.J. "Sentenças de sabedoria dos antigos". In: Hanania, A. R.; Lauand, L.J. Oriente & Ocidente: Sentenças e sabedoria dos antigos. São Paulo: EDIX/Centro de Estudos Árabes DLO-FFLCH/USP, 1994.


CRÉDITO: VIDETUR LIBRO2

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Considerações sobre o que é o Humano e o que é Humanizar, Jaime Betts



O que é o humano? O humano é o efeito da combinação de três elementos: a materialidade do corpo, a imagem do corpo e a palavra que se inscreve no corpo.  
O que diferencia o ser humano da natureza e dos animais é que seu corpo biológico é capturado desde o início numa rede de imagens e palavras, apresentadas primeiro pela mãe, depois pelos familiares e em seguida pelo social. É esse banho de imagem e de linguagem que vai moldando o desenvolvimento do corpo biológico, transformando-o num ser humano, com um estilo de funcionamento e modo de ser singulares. 

O fato de sermos dotados de linguagem torna possível para nós a construção de redes de significados, que compartilhamos em maior ou menor medida com nossos semelhantes e que nos dão uma certa identidade cultural. Em função da dinâmica de combinação desses três elementos, somos capazes de transformar imagens em obras de arte, palavras em poesia e literatura e sons em fala e música, ignorância em saber e ciência. Somos capazes de produzir cultura e a partir dela, intervir e modificar a natureza. Por exemplo, transformando doença em saúde. 

Entretanto, acontece que a palavra pode fracassar e onde a palavra fracassa somos capazes também das maiores barbaridades. A destrutividade faz parte do humano e a história testemunha a que ponto somos capazes de chegar. O homem se torna lobo do homem. Passamos a utilizar tudo quanto sabemos em nome de destruir aos humanos que consideramos diferentes de nós e por isso mesmo achamos que constituem uma ameaça a ser eliminada. Essa destrutividade pode se manifestar em muitos níveis e intensidades, indo desde um não olhar no rosto e dar bom dia, até o ato de violência mais cruel e mortífero. 

Então, o que é humanizar? Entendido assim, humanizar é garantir à palavra a sua dignidade ética. Ou seja, o sofrimento humano, as percepções de dor ou de prazer no corpo, para serem humanizadas, precisam tanto que as palavras com que o sujeito as expressa sejam reconhecidas pelo outro, quanto esse sujeito precisa ouvir do outro palavras de seu reconhecimento. Pela linguagem fazemos as descobertas de meios pessoais de comunicação com o outro, sem o que nos desumanizamos reciprocamente. 

Isto é, sem comunicação não há humanização. A humanização depende de nossa capacidade de falar e ouvir, pois as coisas do mundo só se tornam humanas quando passam pelo diálogo com nossos semelhantes. 
O compromisso com a pessoa que sofre pode ter basicamente três, ou quatro, tipos de motivação. Pode resultar do sentimento de compaixão piedosa por quem sofre, ou da idéia de que assim contribuímos para o bem comum e para o bem-estar em geral. Pode resultar também da paixão pela investigação científica, que se funda sobre o ideal de uma pura “objetividade”, com a exclusão de tudo quanto lembre a subjetividade. Um quarto tipo de motivação de compromisso pode resultar da solidariedade genuína.  

Cada uma dessas motivações tem conseqüências distintas no que diz respeito à humanização. É interessante se observar que no transcurso do século XIX as três estratégias de políticas de assistência à saúde que predominaram são aquelas fundadas na ética da compaixão piedosa, no utilitarismo clássico de Bentham e Stuart Mill e no discurso tecno-científico, sendo que existe uma complementaridade entre essas três estratégias.  

Juntas, elas compõem as modernas estratégias de biopoder, que interferem em nossa existência na medida em que propõe uma nova utopia, a da saúde perfeita num corpo conceitual biônico Essas estratégias passam a assistir nossas necessidades mais elementares e íntimas, vigiando nossos movimentos, discutindo nossa sexualidade e vigiando nossos movimentos em nome de cuidar de nossa saúde. A saúde passa a ser valorizada como um bem acima de qualquer discussão, justificando assim formas coercitivas de controle social em nome da utilidade e da felicidade do maior número, da piedade compassiva pelos que sofrem e do condicionamento de comportamentos considerados mais saudáveis pelo saber médico científico higienista do momento. Tudo isso sem qualquer tipo de questionamento a respeito do que as pessoas envolvidas pensam e tem a dizer sobre o assunto. É preciso ressaltar aqui que a capacidade de cuidar, assistir e aliviar o sofrimento em saúde pública não implica necessariamente que a assistência seja uma intromissão coercitiva. 

A utopia da saúde perfeita surge de forma clara na própria definição da saúde proposto pela OMS em 1948, como sendo o “estado de completo bem-estar físico, mental e social, não meramente a ausência de doença ou enfermidade.” Essa definição tem o mérito de ampliar o escopo de um modelo estritamente biomédico de saúde como presença/ausência da doença ou enfermidade enquanto desvio da normalidade causada por uma etiologia específica e única, tratada pela suposta neutralidade científica da ciência médica. O aspecto utópico está contido na idéia de um estado de completo bem-estar. 

Sabemos, desde Mal-estar na Civilização , que um estado de completo bem-estar simplesmente não existe, a não ser na morte, como estado absoluto de ausência de tensão. Bem ao contrário do que a utopia da saúde perfeita propõe, a civilização moderna vem exigindo da humanidade cada vez mais renuncias às satisfações de seus impulsos e oferecendo cada vez menos referências simbólicas em nome das quais essas renuncias poderiam ser suportadas.  

A lógica da compaixão piedosa , por sua vez, compõe um jogo perverso e desumanizante, difícil de se evidenciar, pois é uma prática muito arraigada em nossa sociedade ocidental, tendo como figura principal no século passado a dama de caridade, que tinha um estatuto de benfeitora divina em função de seus atos de ofertar esmola e filantropia. A dama de caridade vem sendo progressivamente substituída pela enfermagem, herdeira maior dessa lógica que muitas vezes ainda motiva suas ações no ambiente hospitalar. 

O aspecto desumanizante da compaixão piedosa está no fato de que ela faz das diferenças o fundamento para relações dissimétricas que ela institui entre o benfeitor e o assistido. Essa lógica instaura um exercício de poder de coerção e submissão sob um discurso de humanismo desapaixonado e desinteressado, gerando, além da obediência e da dependência, uma sensação de dívida e gratidão eternas pela caridade recebida. 

Caponi ressalta que no ato de compaixão existe uma sutil defesa de nós mesmos, no sentido de nos libertarmos de um sentimento de dor que é nosso, pois o contratempo sofrido pelo outro nos faz sentir impotência, caso não corramos em socorro da vítima, e o temor de que o infortúnio possa nos acontecer. Ou seja, no ato de compaixão não estamos sendo completamente generosos e desinteressados, pois estamos indo, na verdade e em primeiro lugar, em socorro de nós mesmos. 

Outro aspecto é que existe na compaixão um fundo de vingança disfarçada, de sadismo mesmo, pois é preciso que o infortúnio e a desgraça existam e aconteçam com o outro para que nós possamos nos aliviar de nossa própria angústia ao mesmo tempo que supomos que nos engrandecemos moralmente com nossa caridade. É por isso que no sentimento de compaixão, segundo Nietzsche , a dor alheia é despojada do que ela tem de pessoal, de singular e irredutível, pois o compassivo julga o destino sem se preocupar em saber nada sobre as conseqüências e complicações interiores que o infortúnio tem para o outro. Ou seja, quando realizamos atos de caridade, agimos impulsionados pelo júbilo sádico provocado pelo espetáculo de uma situação, masoquista, oposta à nossa. 

O problema da compaixão, quando se amplia e passa a fundamentar políticas de assistência, segundo Caponi , é que ela permanece alheia ao diálogo e exclui a argumentação, pretendendo superar uma necessidade, que muitas vezes é urgente, pela força do imediatismo. 
Outra forma de motivação do compromisso com a pessoa que sofre é fornecida pelo utilitarismo, que faz da procura da maior felicidade para o maior número a medida para todas os atos. Ou seja, um ato é correto se produz as melhores conseqüências para o bem-estar humano. Acredita-se no utilitarismo que o prazer ou bem-estar de um sujeito pode ser medido e comparado com o de outro. Como na cultura do individualismo a felicidade coletiva só pode ser pensada como a soma das felicidades individuais, o problema passa a ser como fazer com que a procura da felicidade individual possa ser integrada nessa felicidade coletiva. A solução passou a ser criar instituições de controle capazes de controlar e regulamentar as condutas dos indivíduos e dentre estas instituições está o hospital, além dos reformatórios, presídios, asilos, etc. 

Nesse sentido, as instituições de assistência pública de saúde se fundamentam faz dois séculos pelos critérios de bem-estar geral, urgência social e de felicidade e interesse comuns. E suas ações, campanhas e programas partem das certezas de que sempre atuam em nome e pelo bem daqueles a quem pretendem ajudar, sendo que supõe conhecer esse bem de um modo claro e distinto, sem necessidade de consultar antes aos “beneficiados”. Uma política de assistência fundamentada sobre esses pressupostos prescinde de argumentos, exclui a palavra e emudece qualquer diálogo. 

Tanto a ética utilitarista, quanto a ética compassiva são, por si só, desumanizantes pelo fato de colocarem os princípios acima dos sujeitos envolvidos, banindo as decisões tomadas coletivamente com base no diálogo e argumentação, pois essas éticas consideram que os princípios religiosos ou de utilidade geral são os únicos que podem determinar de antemão o que dever ser levado em consideração e feito. 

Uma terceira motivação de compromisso com a pessoa que sofre é trazida pelo discurso tecno-científico e a paixão que a suposição de objetividade e neutralidade da ciência desperta no homem moderno. O desenvolvimento científico e tecnológico tem trazido uma série de benefícios, sem dúvida, mas tem como efeito colateral uma inadvertida promoção da desumanização. O preço que pagamos pela suposta objetividade da ciência é a eliminação da condição humana da palavra, da palavra que não pode ser reduzida à mera informação de anamnese, por exemplo. Quando preenchemos uma ficha de histórico clínico, não estamos escutando a palavra daquela pessoa e sim apenas recolhendo a informação necessária para o ato técnico. Indispensável, sem dúvida. Mas o lado humano ficou de fora. O ato técnico, por definição, elimina a dignidade ética da palavra, pois esta é necessariamente pessoal, subjetiva, e precisa do reconhecimento na palavra do outro. A dimensão desumanizante da ciência e tecnologia se dá, portanto, na medida em que ficamos reduzidos a objetos de nossa própria técnica e objetos despersonalizados de uma investigação que se propõe fria e objetiva. Um hospital pode ser nota 10 tecnologicamente e mesmo assim ser desumano no atendimento, por terminar tratando às pessoas como se fossem simples objetos de sua intervenção técnica, sem serem ouvidas em suas angústias, temores e expectativas (informação considerada desnecessária e perda de um tempo precioso) ou sequer informadas sobre o que está sendo feito com elas (o saber técnico supõe saber qual é o bem de seu paciente independentemente de sua opinião). 

Por outro lado, o problema em muitos locais é justamente a falta de condições técnicas, seja de capacitação, seja de materiais, e torna-se desumanizante pela má qualidade resultante no atendimento e sua baixa resolubilidade. Essa falta de condições técnicas e materiais também pode induzir à desumanização na medida em que profissionais e usuários se relacionem de forma desrespeitosa, impessoal e agressiva, piorando uma situação que já é precária. É importante lembrar, com o poeta, que mesmo em tempo ruim, agente ainda dá bom dia! Sempre podemos nos questionar diante de circunstâncias adversas a respeito do que podemos fazer mesmo assim para melhorar. 

Uma quarta motivação para o compromisso com quem está em sofrimento é propiciada pela solidariedade. A solidariedade abre uma perspectiva de humanização, pois ela somente se realiza quando a dimensão ética da palavra está colocada. Nesse sentido, segundo Caponi , a solidariedade implica uma preocupação por universalizar a dignidade humana, que precisa da mediação das palavras faladas e trocadas no diálogo com o outro para poder generalizar-se. Como uma relação autêntica com o outro implica um mínimo de alteridade e aceitação da pluralidade humana como algo irredutível, o laço social humanizante somente se constrói pela mediação da palavra. É somente pela mediação da palavra trocada com o outro que podemos tornar inteligíveis nossos próprios pensamentos, anseios, temores e sofrimentos. Nossos sentimentos e sensibilidades só tomam forma e expressão na relação simbólica com o outro. Enfim, as coisas do mundo se tornam humanas quando as discutimos com nossos semelhantes. 

Nesse sentido, humanizar a assistência hospitalar implica dar lugar tanto à palavra do usuário quanto à palavra dos profissionais da saúde, de forma que possam fazer parte de uma rede de diálogo, que pense e promova as ações, campanhas, programas e políticas assistenciais a partir da dignidade ética da palavra, do respeito, do reconhecimento mútuo e da solidariedade. 

1. Didier-Weill, A. A Nota Azul – Freud, Lacan ea Arte. Rio de Janeiro, Ed. Contracapa, 1997. 
2. Caponi, S. Da Compaixão à Solidariedade – uma genealogia da assistência medica. Rio de Janeiro, Ed. Fiocruz, 2000. 
3. Idem. 
4. Sfez, L. A Saúde Perfeita. São Paulo, Ed. Loyola, 1996. 
5. Freud, S. O Mal-Estar na Civilização (1930). Edição Standard das Obras Completas de S. Freud, Vol. XXI. Rio de Janeiro, Ed. Imago. 
6. Caponi, S. Idem. 
7. Idem. 
8. Nietzsche. A Gaya Ciência. Os Pensadores. São Paulo, Ed. Nova Cultural, 1987. 
9. Caponi. Idem. 
10. Dumont, L. O Individualismo. Rio de Janeiro, Rocco, 1981. 
11. Caponi. Idem.

Crédito: Portal Humaniza

sábado, 6 de agosto de 2011

Comunidade Terapêutica de horrores, maus tratos, tortura, sadismo e outro PASTOR



TORTURA NUNCA MAIS ?!

Drogas - A casa dos horrores

Fonte: Zero Hora

Ao tentar escapar de um drama, o motorista Adriano Seres de Abreu, 33 anos, diz ter conhecido outro em 15 de março - MAURO GRAEFF JÚNIOR

Para expurgar o crack de sua vida, Adriano procurou a Cidade do Refúgio, uma comunidade terapêutica que recebe dependentes químicos em Guaíba. Conta ter passado por dois meses de intimidações, surras diárias e até choques elétricos - justo no lugar onde esperava achar a redenção.

- Quando cheguei, um cara pegou uma cartela com remédios e mandou eu tomar. Eu disse: "Eu não vou tomar isso aí. Não sei que remédio é esse". Na segunda vez que falei que não tomaria, levei um soco na boca do estômago. Aí eu já vi que estava em maus lençóis - afirma.

Próprios dos livros de história medieval, relatos como o de Adriano recheiam 400 páginas recém-concluídas pela Polícia Civil e entregues sexta-feira à Justiça. O documento aponta práticas de tortura, maus-tratos e cárcere privado nas cinco unidades da comunidade terapêutica, que atendiam a 355 pessoas de 20 municípios. O proprietário, o pastor Tarcílio Quirino, e dois monitores estão presos preventivamente. Além deles, outros seis monitores - dois deles foragidos - foram indiciados por 11 crimes. Mais de 60 ex-internos asseguram à polícia e ao Ministério Público (MP) que choque elétrico, agressões a pauladas e corte nos pés eram comuns.

- Havia prática de tortura, com castigo pessoal contra os internos que tentavam fugir ou não cumpriam estritamente as ordens dadas, muitas vezes por puro sadismo - diz a promotora Cinara Vianna Dutra Braga.

Cinara descobriu as agressões por um jovem que, ao escapar do centro, procurou o Ministério Público. O depoimento deu a partida nas investigações e levou a promotora no dia 6 à unidade Logradouro, a 12 quilômetros da área central da cidade, onde havia 120 homens que rezavam numa sala improvisada como capela.

Com um mandado de busca e apreensão nas mãos, ela chegou ao local acompanhada da Brigada Militar. Só encontrou pedaços de pau e uma espada. Até aquele momento, ela tinha só suspeita das agressões. Foi quando escutou um grito desesperado.

- Doutora, me tira daqui! Estou apanhando. Quero sair.

Castigos começaram há oito meses, dizem ex-internos

Cinara preferiu a cautela. Desconfiou de que fosse apenas um ataque de abstinência de um dependente químico, mas perguntou:

- Quem está aqui contra sua vontade? Quem quer ir embora?

Como resposta, ela viu subirem as mãos de 50 jovens, que reclamavam de tortura. Ali, a queixa do interno fugitivo começava a se confirmar.

Um grupo de 17 jovens foi retirado do local e levado à delegacia. Outros 31 homens foram embora no dia seguinte. Iria começar a seqüência de relatos dramáticos.

- Fui queimado com uma concha de feijão quebrada, aquecida em um fogão a lenha. Cortaram meus pés com uma espada - descreveu um jovem de 19 anos em um dos primeiros depoimentos.

Dependentes afirmam que as agressões partiam dos monitores (os "obreiros"), que não admitiam desrespeito às regras rígidas da casa, como as tarefas na horta e horários das refeições. Os castigos teriam começado há oito meses, com o conhecimento do pastor Quirino, garantem os ex-internos.

- O pastor sabia das agressões, presenciava e instigava - sentencia a delegada Tatiana Bastos.

As cinco unidades da Cidade do Refúgio, onde Quirino pregava a palavra de Deus, estão abandonadas. Só em uma delas há oito internos que se negam a sair. Elas foram interditadas pela Vigilância Sanitária, e o MP solicitou à Justiça o fechamento. Ficaram camas reviradas e cartas anônimas em que ex-internos contam o terror. Em uma delas, um jovem rabiscou:

"Sou um drogado, mas não mereço ser humilhado e tratado como um bicho, ser massacrado por quem nunca vi na vida, o meu Deus."

As queixas - Confira as reclamações dos ex-internos, citadas à Polícia Civil e ao Ministério Público:

Corte na sola dos pés - Os monitores usariam uma espada para cortar a sola dos pés dos jovens capturados tentando fugir. A espada também teria sido usada contra o pescoço dos dependentes para ameaçá-los

Queimaduras - Repelentes para mosquito (tipo boa-noite) serviriam para queimar os pés dos "rebeldes". O castigo geralmente ocorria quando quando os internos estavam sob efeito de medicamentos

Escavação de buracos - Quem descumpria as regras seria obrigado a cavar buracos no pátio. Haveria duas formas principais para cumprir essa punição: a escavação de um buraco com dois metros de profundidade com pá e picareta e a escavação com uma colher de sopa, considerada a mais cruel. Internos ficariam até quatro horas cavando na terra. Se a colher quebrasse, o trabalho precisava seguir mesmo sem o cabo

Choques elétricos - Um aparelho artesanal com fios e transformadores serviria para dar choques. As descargas seriam aplicadas nas orelhas, nos braços e nos dedos

Afogamento - Os jovens sofreriam afogamento em uma fossa e num açude que havia nos fundos de uma das casas. Os monitores mergulhavam os internos por segundos e depois os deixavam respirar

Surra - É o método mais citado. Pedaços de paus seriam usados para castigar quem pedisse para ir embora. Jovens também teriam sido vítimas de socos e pontapés

Espancamento mútuo - Internos teriam sido obrigados a bater em colegas, sob pena se serem espancados se não cumprissem a ordem. Um jovem contou que foi forçado a dar socos e pontapés em um amigo dele e depois obrigado a apanhar quieto

Medicamentos - Os jovens seriam obrigados a tomar medicamentos para adormecer. Um deles contou que chegou a dormir por três dias e três noites



Para defesa do Pastor, as queixas são equivocadas

Defensora do pastor Tarcílio Quirino, a advogada Andréia Fioravante diz que ele nunca presenciou agressões no local. Andréia admite que pode ter havido brigas internas, mas sem consentimento da direção.

- Se aconteceu alguma agressão, foi à revelia de Quirino - observa.

Para ela, alguns depoimentos podem ser fantasiosos:

- A maioria dos depoimentos é de internos que estavam lá há pouco tempo, naquele período crítico de abstinência. Quase todos eram usuários de crack, que, quando ficam em abstinência, têm confusões mentais.

A defesa lamenta o episódio, porque arranha a imagem da Cidade do Refúgio. Ela conta que a instituição já atendeu a mais de 2 mil pessoas, entre dependentes e familiares.

- Muita gente era recuperada das drogas por ele. Seu trabalho cobria um lacuna deixada pelos gestores públicos - sublinha.

Andréia tenta conseguir no Tribunal de Justiça a liberdade do pastor, que está no Presídio Central. A Justiça de Guaíba já negou dois pedidos de liberdade.

Boa oratória consolidou prestígio. Bastavam dois minutos de conversa com o pastor Tarcílio Quirino para ele apresentar seu cartão de visitas:

- Meu amigo, eu estive preso no Carandiru (complexo de presídios desativado em São Paulo) por envolvimento com drogas e roubo. Encontrei Deus e me recuperei.

Foi com esse discurso que conquistou amigos e apoio para montar a primeira unidade da Cidade do Refúgio, há mais de 10 anos. Com boa oratória, fez amizades pelo Estado. Percorria gabinetes de parlamentares, freqüentava reuniões em órgãos públicos e visitava juízes. Recebeu homenagens até na Câmara de Vereadores da Capital. Alimentada pelo prestígio de seu dono, a Cidade do Refúgio conheceu o crescimento: em uma década, conseguiu criar cinco unidades (quatro para homens e uma feminina). Para angariar recursos, ele alardeava que só recebia contribuições voluntárias dos familiares - um discurso falso, para a delegada Tatiana Bastos.

- Ele cobrava em média R$ 400, mas temos casos de pessoas que pagavam até R$ 700 por mês - diz.

Respeitado em Guaíba, Quirino recebia mantimentos e roupas arrecadadas pela prefeitura e Justiça. Até 2007, a entidade era contemplada com uma verba municipal de R$ 2 mil mensais. As formaturas de jovens que largaram o vício eram prestigiadas por autoridades municipais. A suspeita do envolvimento do pastor com tortura sacudiu a cidade.

- No começo, não acreditei. Depois que assisti a quase 70 depoimento e vi as pessoas feridas, fiquei horrorizado. Acho que ele (Quirino) perdeu o controle - surpreende-se Jorge Santos, secretário de Ação Social Guaíba, que encaminhava jovens à Cidade do Refúgio.

"Nos últimos tempos, ficou muito cruel", diz Jovem de 18 anos, morador de Guaíba, que pediu para não ser identificado

"Fiquei nove meses lá. Passei 20 dias fora, mas tive uma recaída porque voltei a usar crack e minha mãe me internou de novo. Antes não era assim. Sempre houve intimidação, mas nunca vi agressão daquele jeito. Nos últimos tempos, a coisa ficou muito cruel. No terceiro dia depois da minha volta, me colocaram em uma salinha com cinco ex-drogados que trabalhavam na casa e comecei a ser agredido com tapas do rosto e socos na barriga. Pegaram um bastão e começaram a dar pauladas nas minhas costas, nas pernas e nos braços. Se reclamasse, apanhava mais. Mandaram eu ajoelhar na frente deles. Eu não ajoelhei porque falei que eles não eram Deus. Aí bateram na minha perna com um pau até eu cair (o jovem está internado em uma clínica com a perna inchada). A salinha de apanhar era chamada por eles de consultório ou confessionário. Diziam assim: Tu tem uma consulta com o doutor Camboim. Camboim era como eles chamavam os pedaços de pau. Levei choques no antebraço. Diziam que era para ficar esperto ".

"Nos primeiros 30 dias, levei umas 20 tundas", diz Adriano Seres de Abreu, 33 anos, morador de Porto Alegre

"Nos primeiros dias, agüentei pensando que, na outra semana, falaria com minha mãe, que iria me visitar. Eu tinha 24 dias de casa quando houve a primeira visita. Eles me chaparam de remédio e ligaram para minha mãe dizendo que eu não poderia receber visita. Eles não deixaram eu falar com ela porque sabiam que eu ia contar tudo. Vi que não adiantava fazer nada, aí me aquietei. Nos primeiros 30 dias de internação, levei umas 20 tundas. Em um dia, apanhei três vezes. Uma vez foi porque troquei com outro interno um tênis por um pacote de bolacha. Eu uso prótese no dente. Eles levaram um aluno para me bater. Até hoje minha prótese está quebrada por trás. Com a prótese quebrada, ainda me humilhavam mandando dar uma risada para todo mundo ver. Os caras (os monitores) eram muitos ruins. Muito ruins mesmo. Eram bandidos para caramba. Eles não queriam que ninguém saísse para não perder o dinheiro que recebiam."

Episódio expõe falta de fiscalização

Ligada ao governo federal, a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) reconhece a falta de fiscalização de comunidades terapêuticas. Manoel Teles, coordenador de projetos, afirma que a secretaria discute alternativas para aumentar o controle sobre os centros, que se proliferam diante do aumento de dependentes e da deficiência no atendimento público. Carlos Alberto Salgado, coordenador do Departamento de Dependência Química da Associação de Psiquiatria do RS, observa que há ótimos trabalhos nas comunidades terapêuticas. Ele lembra dos cuidados para internar um dependente:

- A família deve ter acesso às dependências do local e ninguém deve ficar preso onde não quer.

Comentário do Bengochea - Este caso é mais uma prova da ausência e do desinteresse do Estado nas questões de ordem pública. Mesmo sendo as drogas a mola propulsora da violência e da criminalidade, o Estado só vê o aspecto repressivo e não enxerga a necessidade de investir na prevenção e no tratamento das dependências químicas, esquecendo seus efeitos e deixando de controlar quem trata visando o interesse financeiro. Quem deveria ser reponsabilizado são os governantes, por desrespeito à ordem, à saúde e aos direitos humanos.


TORTURA NUNCA MAIS ?!


sexta-feira, 29 de julho de 2011

Caio Fernando Abreu



Tenho a boca afiada de punhais
não choro
olho os faróis com duros olhos
ardidos de quem tem febres
mas não sangro
as mãos vazias deixam passar o vento
lavando os dedos que não se crispam
não há palavras, nem mesmo estas
o único sentido de estar aqui
é apenas estar secamente aqui
cravado como um prego
em plena carne viva da tarde.

JULHO, 1980

Crédito: Letras e Livros

Guimarães Rosa


"Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura."

"Sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na idéia, querendo e ajudando, mas quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois."

"Nunca digas que esqueceste um amor diga apenas que consegue falar nele sem chorar, pois o amor é... inesquecível"

Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.

Crédito: Pensador 

Pouco importa


"Não sei, não quero mais saber de nada. Já não me interessa mais. Pouco importa. Porque querer entender alguém que muda de acordo com o ambiente? Não sei porque escrevo essas coisas. Sua vida me dá muita pena, apesar de você querer aparentar ser forte. No fundo você é uma fraca que se obrigou representar o papel de mulher forte. O excesso de sofrimento lhe fez assim, rude, agreste, selvagem, do tipo que "não chora" porque aprendeu, em seu mundo de pouquíssimas mulheres, que homem não chora, mas, mesmo sabendo que não é homem você incorporou dentro de você esta idéia machista, que você não aceita porque nunca buscou se conhecer, de mergulhar introspectivamente em seu mundo e assim procede para evitar antigas recordações da infância, que sua memória, seletivamente, procura apagar do seu mundo real. no fundo você é uma pessoa nebulosa, envolta por uma intensa cerração. Parece que se trancou e jogou a chave fora. Inconstante e fugitiva e não sabe a razão porque foge. Você foge em busca da infância perdida, vive em função das perdas enquanto adolescente e se encontra presa, amarrada, como um saveiro no cais. Seu mundo é seco, sem mar, onde o horizonte parece ter fim nas terras do sem fim." 

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O AMOR DE AGORA


DANTE MILANO





O AMOR DE AGORA


O amor de agora é o mesmo amor de outrora
Em que concentro o espírito abstraído,
Um sentimento que não tem sentido,
Uma parte de mim que se evapora.
Amor que me alimenta e me devora,
E este pressentimento indefinido
Que me causa a impressão de andar perdido
Em busca de outrem pela vida afora.
Assim percorro uma existência incerta
Como quem sonha, noutro mundo acorda,
E em sua treva um ser de luz desperta.
E sinto, como o céu visto do inferno,
Na vida que contenho mas transborda,
Qualquer coisa de agora mas de eterno.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Vida dupla, dupla vida, quem é você?


Sabe, sempre tive muita pena de você. Sei da sua infância sofrida. Do que ocorreu com sua família quando seu pai faleceu. Da luta pela posse do que lhes pertencia, por direito, e a luta de outras pessoas, interessadas em partilhar uma herança, que não mereciam e que cuidavam ter, por caprichos e preconceitos. Seu primo me contou sua vida na fazenda, das suas limitações, da criança que se vê em um teatro trágico e, em dado momento, vê o mundo colorido desbotando enquanto a família vai sendo "esquartejada", com os filhos distribuídos entre famílias de amigos, daqui e dali. Deve ser horrível, este tipo de separação e a separação é um sentimento que sempre esteve presente em sua vida, como uma marca na alma que já não mais incomoda, porque se acostumou com a dor produzida pelas inúmeras perdas sofridas.
Como deve ter sido marcada por traumas esta sua infância, sobre a qual nunca quis falar. Sobre este assunto, reina em seu coração um absoluto silêncio. Lembranças de uma criança indefesa diante de adultos que cheiravam e fediam como animais, cheios de instintos carnais e sem qualquer consciência para ajuizar os próprios atos.
Ora aqui, ora ali e nisso tudo a família pulverizada um dia volta a se reunir. Criada em parte pelos pais, depois por terceiros, veio a conhecer a escola depois de grandinha. Imagine estar em uma sala onde só tem uma pessoa grandinha, tendo que conviver no meio das pequenininhas? E os preconceitos versus seus sentimentos dentro de uma escola de religiosas, onde veio a conhecer a inveja e o despeito. Seu mundo sofria rápidas mudanças, como se você fosse predestinada a elas. Vejo muita dor em sua vida e vejo que ainda resiste, que ainda é forte. Noto apenas nas rugas que se formam em seu rosto, que são marcas do tempo, seu descontentamento, sua inconformidade, suas interrogações sobre sua própria vida e sobre seu destino e não acha as respostas, apenas acha o que mais lhe convém achar, e essa conveniência abranda seu sofrer estampado, sem marca d´água, em seu rosto envelhecido, como se ele fosse reflexo do chão seco da terra do solo rachado, em tempo de vacas mortas pela falta do precioso líquido da vida, sem o qual perecemos.
Mais tarde chega o tempo em que afloram desejos e o primeiro amor chega ao coração e, não mais que de repente, o grande amor se encerra em uma cena de traição. Terrível cena, em plena praça, desfilando com outra, em seu lugar, sem ter lhe dito nada, em silêncio, na surdina... Doeu tanto que do riso fez-se o pranto e você viu o seu primeiro amor fugindo, em uma separação absurda para o pobre coração, da pobre menina, humilhada publicamente sem qualquer palavra pronunciada. Traída por quem ela julgava ser o seu primeiro namorando. Tudo isso  publicamente, em uma cidade pequenininha.
Dai em diante raiva, ódio, desejo de vingança, são sentimentos atrozes que se apossam do seu ser – que ainda guardava a rudeza da vida na fazenda, no meio do mato, como se fosse bicho. Nasce uma fera, que busca manter a ternura, mas será, doravante uma fera ferida. As amigas aconselhando isso e mais aquilo e nada dava certo. Vem o desejo de reconquistar o que perdeu e o desgosto é indisfarçável. Sua alma ficou tão confusa, tão embaralhada, sua visão fixou-se em um único ponto, lugar comum entre mulheres: homem não presta, são todos iguais! Dai então sua vida começa a mudar, outra vez...

Tempos depois, você sente vergonha em repetir de ano em sua cidade e parte, sozinha, para a capital, para viver em casa dos tios. Mais uma vez separada e desta feita sofre outras duas novas separações.

Na capital não tinha fiscais para tomarem conta de você, não haviam velas, não tinha nada daquele controle que as mães têm quando as filhas moram com elas. Estava separada, só, saudosa, mas já ambientada em outro tipo de selva, que não era mais o lugar da sua infância, nem da adolescência. Tudo era diferente.
Você deu para ver gente usando drogas e você não gostava de drogas, pois viu um irmão destruindo a própria vida, e isso lhe chocava e enraivecia. Mas na cidade grande rolam afinidades e estas acabam gerando relacionamentos enrrolados e você que já havia sofrido um trauma por conta da infidelidade... Julgou que também deveria ser livre, sem vínculos, movida apenas pelo instinto do prazer e cheira e sente o pecado sem amarras. Tantas dores iam lhe alterando a personalidade e você já se sentia sob efeito anestésico. Tudo lhe era indolor. Mas o sofrer não acaba nunca. Apenas dá uma trégua.
Imagine se você pudesse voltar na vida e corrigir todos os seus erros e os erros alheios, seria tão bom, mas isso não é possível.
Seu mundo pode mudar para melhor e você só precisa reconhecer suas verdades como verdades, ao invés de viver negando uma infinidade delas, todas reais, como os dois pintinhos que jogou na lata de óleo e escondeu de todos, até o dia em que o pai encontrou os pobres coitados. Dois pintinhos indefessos jogados dentro de uma lata de óleo sem uma explicação racional.  A aprendizagem da mentira nasce de necessidades, de auto-proteção, como suas negações. E você mente e mente, mas não mente para todos. Confia em quem faz o mesmo que você, em quem você, no seu julgamento, diz que “não presta” e, por isso mesmo, é igual a você, não é mesmo? Agora sentia o amargo de ser amada, mas recusada para casar. Amada por uns dias, depois virava página virada, descartada de qualquer folhetim barato. Você não é mais ingênua e bem sabe o que sua realidade representa. Continua a pensar novas ilusões, mas suas verdades tornaram-se insuportáveis quando a máscara caiu. Uma nova separação, que se seguirá de outra e de outras tantas. Seu sofrimento parece não ter fim, por que tem uma inquietude na alma, que lhe acompanha desde a infância perdida. Volte e veja se consegue se encontrar, talvez consiga. Sempre resta uma esperança, pense nisso e volte crescida, adulta, mulher de verdade, sem fantasias, com as marcas deixadas pelo destino que lhe foi cruel, mesmo nos momentos de prazer.

domingo, 24 de julho de 2011

Mário Quintana


A idade de ser Feliz

A idade de ser Feliz


Existe somente uma idade para a gente ser feliz. Somente uma época na vida de cada pessoa em que é possível sonhar e fazer planos e ter energia bastante para realizá-los, a despeito de todas as dificuldade e obstáculos. 

Uma só idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente e desfrutar tudo com toda intensidade sem medo nem culpa de sentir prazer. Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança e vestir-se com todas as cores e experimentar todos os sabores. Tempo de entusiasmo e coragem em que todo desafio é mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo novo, de novo e de novo, e quantas vezes for preciso. 

Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se PRESENTE, também conhecida como AGORA ou JÁ e tem a duração do instante que passa... 

domingo, 17 de julho de 2011

É Preciso Repensar a Nossa Vida, Al Berto



É preciso repensar a nossa vida. Repensar a cafeteira do café, de que nos servimos de manhã, e repensar uma grande parte do nosso lugar no universo. Talvez isso tenha a ver com a posição do escritor, que é uma posição universal, no lugar de Deus, acima da condição humana, a nomear as coisas para que elas existam. Para que elas possam existir… Isto tem a ver com o poeta, sobretudo, que é um demiurgo. Ou tem esse lado. Numa forma simples, essa maneira de redimensionar o mundo passa por um aspecto muito profundo, que não tem nada a ver com aquilo que existe à flor da pele. Tem a ver com uma experiência radical do mundo.
Por exemplo, com aquela que eu faço de vez em quando, que é passar três dias como se fosse cego. Por mais atento que se seja, há sempre coisas que nos escapam e que só podemos conhecer de outra maneira, através dos outros sentidos, que estão menos treinados… Reconhecer a casa através de outros sentidos, como o tacto, por exemplo. Isso é outra dimensão, dá outra profundidade. E a casa é sempre o centro e o sentido do mundo. A partir daí, da casa, percebe-se tudo. Tudo. O mundo todo.

Al Berto, in "Entrevista à revista Ler (1989)"

sábado, 16 de julho de 2011

RACIONALIZAÇÃO

Racionalização vista por um leigo


"No geral, há duas razões para tudo o que fazemos: a  razão alegada e a razão real".  Isto não é coisa de adicto, mas da vida, do ser humano, de cada um de nós. 
A racionalização é um dos mecanismos  de defesa do ego mais preponderante dentre os demais. Quando racionalizamos  nos tornamos desonestos, enganadores,
 com o senso de integridade corrompido. 
É muito comum encontrarmos justificativas  para nossas falhas, nossas ações, dai transformamos "nossas preferências  emocionais em conclusões racionais". 
Quando digo que vou para minha terra  ver minha irmã em véspera do são joão, na verdade estou indo mesmo passar o são joão em casa dela, porque é uma festa que eu gosto. Do mesmo modo que o sujeito que toma vinho alegando ser o mesmo ótimo para o coração. 
Na verdade bebe porque gosta da bebida. Ninguém toma cerveja por conta do malte, mas porque gosta de beber, verdade seja dita. Quando racionalizo utilizo a inteligência para negar a verdade, transformo desejos em fatos. A racionalização gera desonestidade consigo mesmo e, se sou desonesto comigo mesmo porque não serei com o próximo? Perdemos nossa autenticidade  através da sabotagem. Quando racionalizo sou insincero. A necessidade  de racionalizar busca fazer com que uma  verdade deixe de ser verdade e o mal se transforme no bem. Infelizmente a racionalização é largamente empregada  nas mais diversas situações. 
Ela se faz presente nos relacionamentos, ocorre com muita gente e não apenas com adictos, mas também pelos co-dependente. 
Cabe a quem se propõe agir de maneira honesta não mais se valer de um recurso que nos torna desonestos.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

ABANDONO


Dor do Abandono
Rosemeire Zago


Sensação de abandono na infância gera complexos

Um dos sentimentos mais difíceis de serem superados creio que seja a dor do abandono, da rejeição, da perda, que para muitas pessoas começa logo cedo. Não me refiro só ao abandono cujos pais o deixaram desde o nascimento. Mesmo quem teve pai e mãe presente, pode sentir-se abandonado, se sentir que sua mãe não o escutava, não ouvia. Quando a criança não é aceita em sua realidade, ela não vivencia a autenticidade de seus próprios sentimentos. Não é preciso que a criança seja órfã para ter esses sentimentos, mas é claro que serão mais intensos em quem realmente viveu ou vive a orfandade.

Quando o relacionamento primário fundamental foi comprometido, não havendo um envolvimento total dos pais com os cuidados básicos da criança, ela desenvolverá mecanismos inconscientes para contar com seus próprios recursos. É quando o bebê experimenta o abandono e passa desde muito cedo a agir como um ser independente, como se no fundo soubesse que não pode contar com mais ninguém. Diante desse abandono podemos encontrar três complexos psicológicos principais. Entendemos por complexo uma determinada situação psíquica de forte carga emocional, que muitos conhecem como "trauma". Ou seja, os complexos são portadores da energia afetiva.

Esses três complexos são:

- Profunda sensação de ausência pessoal de valor:
O calor materno oferece à criança a sensação de valor. Quando esse amor deixa de existir a pessoa se sente rejeitada, acha que fez alguma coisa errada, sendo assim, inaceitável, e passa a duvidar da razão de sua própria existência. Sentimento que pode perdurar durante anos ou uma vida inteira dentro de algumas pessoas e refletir em todas áreas de sua vida. A tão conhecida baixa auto-estima. A sensação de ter valor é essencial à saúde mental, pois quando se sente valiosa, a pessoa cuidará de si mesma de todas as maneiras que forem necessárias.

- Sensação de culpa:

Essa culpa não deve ser confundida com a culpa mais consciente que a pessoa sente quando faz algo. É uma culpa mais profunda, onde acaba por se culpar por não ser amado, aceito. Essa busca pela mãe, ou pela fonte de carinho e amor, pode desencadear outros processos na vida da pessoa. É como se estivesse sempre em busca dessa proteção. Sente que tem uma dor que não pode ser aliviada, e assim, acaba por sentir pena de si mesmo, desenvolvendo muitas vezes a auto-piedade. Espera, ainda, que os outros também a vejam assim, sempre esperando que alguém venha salvá-la.

Esse quadro pode gerar relacionamentos de muita dependência. Como perdeu sua ligação com a fonte de sustentação da vida, apega-se a toda pessoa que possa lhe oferecer segurança. Alguns se apegam a qualquer objeto, pessoa ou forma de comportamento que representa segurança, como sexo, dinheiro, comida, drogas, entre outros. Até o momento de perceber, o que muitas vezes pode levar anos, que esse objeto não tem o mesmo significado e não irá efetivamente suprir essa carência e esse vazio.

Poderá também desenvolver muita dificuldade em lidar com a solidão. Como não tem o bastante de si mesma, sente que tem valor apenas quando está na presença de outra pessoa, como se fosse vital para sua sobrevivência. Pode ainda desenvolver uma dependência mútua, criando um verdadeiro elo simbiótico inconsciente, ou seja, o que muitos vivem e conhecem como relação doentia. Onde nenhum dos dois consegue deixar esse vínculo, apesar do sofrimento instalado. Essa situação de excessiva dependência entre duas pessoas cria uma situação psicológica improdutiva e, conseqüentemente, não há troca, crescimento, mas sim muito sofrimento. Torna-se uma situação difícil de ser rompida, pois há muito medo de ser deixado, ficar só, evitando a todo custo, mais um abandono.

Poderá ainda acontecer o contrário, a pessoa mesmo querendo manter a relação, abandona a outra pessoa, para que ela mesma não seja abandonada. Essa situação de dependência pode fazer com que a pessoa torne-se a criança-vítima, ou seja, procura ser boazinha com o intuito de ser cuidada, gerando a necessidade de agradar e a dificuldade de dizer não, buscando sempre e, inconscientemente, aprovação e reconhecimento. É preciso tornar consciente sua dependência e suas eventuais conseqüências para que não fique repetindo situações de abandono.

- Profunda atração pela morte:

Para a criança, o abandono por parte dos pais é equivalente à morte. Essa sensação é mais profunda em quem realmente perdeu a mãe no momento do nascimento. Mas também por quem não foi literalmente abandonado, mas vivenciou esse medo, ele pode ressurgir mais acentuadamente em momentos de renascimento ou quando algum projeto está para ser iniciado, como em momentos de mudança, pois todo caos que precede a cada novo nascimento acaba por gerar um doloroso processo de recordação de sua experiência traumática inicial do abandono, podendo facilmente sentir-se imobilizado frente ao desconhecido, sem permitir-se crescer, transcender, resistindo às mudanças.

Pode existir em algumas pessoas a síndrome do aniversário, onde revive nesse dia seu trauma de infância, o abandono, evitando assim, qualquer tipo de comemoração.

Para lidar com todos esses aspectos o mais indicado é ter consciência de todo esse processo e, principalmente, dos sentimentos que surgem. Falar sobre eles poderá ajudar a integrar conteúdos que estão no inconsciente ao consciente.

É preciso aceitar toda essa realidade e não negar seus sentimentos e carências, assim suas necessidades poderão ser supridas de maneira equilibrada e consciente e não através de relações doentias.

Ao se permitir sentir dor, raiva, mágoa e tristeza, poderá começar a amenizar sua dependência e assumir mais responsabilidade por si mesmo e por seus sentimentos.

Quando esses presentes, carinho, afeto, demonstrações constantes de amor, como a certeza de que não será abandonado, não foram dados pelos pais, é possível obtê-los de outras fontes, porém esse processo em geral, dura a vida inteira. Mas é possível transformar toda a dor do abandono ao interagir com essa criança que apenas espera por seu amor.


Crédito; Portal Angels

quinta-feira, 30 de junho de 2011

VIVENDO




13 Linhas Para Viver

1. Gosto de você não por quem você é, mas por quem sou quando estou contigo;

2. Ninguém merece tuas lágrimas, e quem as merece não te fará chorar;

3. Só porque alguém não te ama como você quer, não significa que este alguém não te ame com todo o seu ser;

4. Um verdadeiro amigo é quem te pega pela mão e te toca o coração;

5. A pior forma de sentir falta de alguém é estar sentado a seu lado e saber que nunca vai poder tê-lo;

6. Nunca deixes de sorrir, nem mesmo quando estiver triste, porque nunca se sabe quem pode se apaixonar por teu sorriso;

7. Pode ser que você seja somente uma pessoa para o mundo, mas para uma pessoa você seja o mundo;

8. Não passe o tempo com alguém que não esteja disposto a passar o tempo contigo;

9. Quem sabe Deus queira que você conheça muita gente errada antes que conheças a pessoa certa, para que quando afinal conheça esta pessoa saibas estar agradecido;

10. Não chores porque já terminou, sorria porque aconteceu;

11. Sempre haverá gente que te machuque, assim que o que você tem que fazer é seguir confiando e só ser mais cuidadoso em quem você confia duas vezes;

12. Converta-se em uma pessoa melhor e tenha certeza de saber quem você é antes de conhecer alguém e esperar que essa pessoa saiba quem você é;

13. Não se esforce tanto, as melhores coisas acontecem quando menos esperamos.

Gabriel García Marquez
Crédito : Marcos Ricardo

CASTRO ALVES, AMAR E SER AMADO
















Amar e ser amado! Com que anelo
Com quanto ardor este adorado sonho
Acalentei em meu delírio ardente
Por essas doces noites de desvelo!
Ser amado por ti, o teu alento
A bafejar-me a abrasadora frente!
Em teus olhos mirar meu pensamento,
Sentir em mim tu’alma, ter só vida
P’ra tão puro e celeste sentimento:
Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Juntos, juntos perderem-se no oceano —,
Beijar teus dedos em delírio insano
Nossas almas unidas, nosso alento,
Confundido também, amante — amado —
Como um anjo feliz... que pensamento!?

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Caio Fernando Abreu


 

Uma vez eu disse que a nossa diferença fundamental é que você era capaz apenas de viver as superfícies, enquanto eu era capaz de ir ao mais fundo, você riu porque eu dizia que não era cantando desvairadamente até ficar rouca que você ia conseguir saber alguma coisa a respeito de si própria, mas sabe, você tinha razão em rir daquele jeito porque eu também não tinha me dado conta de que enquanto ia dizendo aquelas coisas eu também cantava desvairadamente até ficar rouco, o que eu quero dizer é que nós dois cantamos desvairadamente até agora sem nos darmos contas, é por isso que estou tão rouco assim, não, não é dessa coisa de garganta que falo, é de uma outra de dentro, entende? Por favor, não ria dessa maneira nem fique consultando o relógio o tempo todo, não é preciso, deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço....

sábado, 25 de junho de 2011

Caio Fernando Abreu


Existe sempre alguma coisa ausente. Acho que a gente tem que vencer. Ou lutar. E ficar bem. Feliz. Criar. Fazer. Se mexer.

Vontade que você estivesse aqui e eu pudesse te mostrar muitas coisas, grandes, pequenas, e sem nenhuma importância, algumas.

eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você.

Um café e um amor. Quentes, por favor.

Coragem, às vezes, é desapego. É parar de se esticar, em vão, para trazer a linha de volta. (...) É aceitar doer inteiro até florir de novo. 

Não era possível evitar por mais tempo uma onda que crescia, barrando todos os outros gestos e todos os outros pensamentos.

A verdade é que ainda hesito em dar um nome àquilo que ficou, depois de tudo. Porque alguma coisa ficou.

Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol.

Sinto uma falta absurda de você. Ficou um vazio que ninguém preenche. E penso e repenso e trepenso em você aí… Tá tudo bem assim.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

O Amor nos dias de hoje


Três coisas que eu aprendi sobre o amor.
1º Ele não é fácil. Você pode tentar de qualquer maneira não sofrer por amor, mas você sempre sofre.
2º Ele não é difícil. Amar uma pessoa pode levar tempo, porém quando você realmente a ama, é um sentimento de alegria que você não consegue segurar.
3º Você sempre tem de se doar. E às vezes uma prova de amor acaba levando à morte de uma pessoa.
O grego tem três palavras para o amor: eros, ágape e philos. O primeiro é o amor romântico (Cântico dos Cânticos 8.6). O segundo é o amor fraternal, digamos (1Coríntios 13.13; Romanos 5.8). E o terceiro é uma amizade.
A frase Eu te amo hoje tomou uma nova forma: um bordão sem sentimento. Hoje quando duas amigas se conhecem, no mesmo dia a frase é dita: sem nenhum sentimento. No outro dia brigam, e no outro se amam. E a frase continua lá – firme e forte.
O amor hoje também passou de pessoas para coisas. C. S. Lewis disse que o inglês possui duas formas para amar: like e love. O primeiro é mais geral: I like cars (Eu gosto de carros), e o segundo é o amor de fato: I love my cousin (Eu amo meu primo), mas não é o que vemos hoje. Ao invés de ‘I like chocolate’ (Eu gosto de chocolate), por exemplo, o que se ouve é ‘I love chocolate’ (Eu amo chocolate). Claro que, neste caso, o love está sendo usado para dar ênfase ao fato de gostar muito de chocolate. O problema é o sentimento. Geralmente, as pessoas não nutrem sentimentos por chocolate – ou por uma lata de lixo ou uma roupa. O português tem três formas básicas: gostar, adorar e amar. Elas são bem divididas. Eu gosto de chocolate, eu adoro chocolate e eu amo chocolate. O primeiro é uma expressão geral, o segundo mostra que você gosta bastante de chocolate e o terceiro é o amor-sentimento. Entretanto, o que ouvimos por aí é apenas o ‘eu amo chocolate’.
Longe de mim dizer que a forma dita está errada. O que quero dizer é que enquanto atribuirmos uma questão sentimental a algo que não deve ser sentimental, nós estaremos nos apegando mais ao mundo material. E é exatamente deste mundo que devemos nos desprender. Cristo disse que deveriamos amar uns aos outros – mas não disse que isso era fácil. As Escrituras também dizem para não nos apegarmos a este mundo – ele há de passar. Mas o quão dispostos a isto nós estamos?
Devemos a cada dia ter este amor ágape – fraternal – uns com os outros. Seja ao ajudar a carregar um pacote ou ajudar um amigo pelo computador.
Vamos fazer a diferença e começar a amar aquela pessoa que está mais próxima da gente – e não a página de rede social que está aberta simultâneamente à janela deste texto.
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OPINIÃO

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Portanto, participe sempre dando suas próprias
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